Coração de mãe? Esse paranaense e essa paraense têm
11/05/2025
(Foto: Reprodução) Em São Paulo e no Rio de Janeiro, projeto 'Pedalando sem Idade' resiste graças à persistência de duas pessoas. Felizmente, continuo me surpreendendo com a capacidade de empatia e doação dos seres humanos – o que ajuda a encarar aqueles representantes da nossa espécie que não valem nada. Por isso, hoje quero contar a história do paranaense Aldo Nakamura e da paraense Clélia Maria Lourenço de Andrade, que, sozinhos, tentam manter, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o projeto “Pedalando sem Idade”.
Aldo Nakamura conversa com participantes do projeto “Pedalando sem Idade”
Acervo pessoal
Criado em 2012 por Ole Kassow em Copenhague, o “Cycling without Age” (CWA) está presente em mais de 40 países e parte de uma ideia simples: voluntários, que são chamados de pilotos, pedalam triciclos e levam idosos e pessoas com mobilidade reduzida a sentirem a liberdade de andar de bicicleta. Para a sensação ser completa, o condutor se posiciona atrás dos passageiros. Quando Nakamura, que trabalha na área de tecnologia e se dedica ao voluntariado há 30 anos, assistiu a uma palestra de Kassov, ficou encantado:
“Tenho 57 anos e deixei o sedentarismo para trás quando as ciclofaixas começaram a ser implantadas em São Paulo. Imaginei que, ao participar dessa rede, eu juntaria as duas coisas: pedalar e ser voluntário. Não havia sequer um fabricante de triciclo do tipo homologado pelo projeto. Apesar de a licença ser gratuita para se tornar um associado, o modelo custava 6 mil euros na época. Fiz duas vaquinhas virtuais que fracassaram, mas, antes da Olimpíada no Rio de Janeiro, em 2016, recebi um telefonema do próprio Kassov, dizendo que a fabricante do veículo faria uma exposição com diversos modelos de bicicletas e traria um triciclo. ‘Você quer?’, me perguntou”.
Nakamura comprou passagem, arranjou hospedagem e contratou carreto, acreditando que, quando o evento acabasse, poderia levar o triciclo para São Paulo. No entanto, a burocracia brasileira atrasou em um ano seus planos, até que, em 2017, passou a oferecer os passeios na região da Granja Julieta, onde mora. Ao contrário do que possa parecer, a maioria das instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) que procurou não se mostrou receptiva, mas ele não desistiu.
“Fui aceito por três instituições. Eu tinha um voluntário que me ajudava, mas ele se mudou. Hoje, só consigo fazer uns quatro passeios em cada sábado, cada um com cerca de meia hora. Para buscar recursos, cheguei a pensar em criar uma ONG, mas aí teria custos de contabilidade”, afirma. Assim, com seu exército de um homem só, agora mantém a parceria com duas ILPIs da região, conduzindo o triciclo no Parque Severo Gomes, e com o Sesc da Paulista, num evento que é trimestral – o próximo será em junho.
Já é possível comprar no Brasil um veículo do tipo homologado pela CWA, a um custo entre R$ 10 mil a R$ 15 mil – é mais caro caso seja motorizado. Foi o que fez a economista paraense Clélia Maria Lourenço de Andrade, de 77 anos, que mora em Botafogo e transporta o triciclo para o Calçadão de Copacabana, na Zona Sul carioca, que fica fechado para os automóveis aos domingos.
No calçadão de Copacabana, voluntário pedala triciclo com duas idosas
Acervo pessoal
“Eu e meu marido, que também é economista aposentado, moramos no Rio há nove anos. Conheci o projeto em 2022 e entrei em contato com o Aldo, que me explicou como funcionava. Fizemos uma vaquinha on-line e só conseguimos 50% do que era necessário, mas decidimos bancar o resto”, diz. Por problemas de saúde, o casal suspendeu temporariamente os passeios, que serão retomados no fim do mês. Clélia conta com três voluntários e é parceira de duas ILPIs. “São muitas histórias, as pessoas se emocionam, resgatam memórias antigas”, detalha.
Em Belo Horizonte, há o “Pedalando com a PUC”, projeto de extensão da universidade, que promove passeios na orla da Pampulha. Os triciclos são os tradicionais, com o voluntário na frente, mas o objetivo é o mesmo: promover o bem-estar e a interação social dos idosos. Para quem se interessar e quiser saber mais nas redes sociais, basta procurar em: #pedalandosemidade; #psi_pedalandosemidade_rj; #pedalandopuc.
Voluntários usam triciclos para recolher resíduos jogados nas ruas durante o carnaval